terça-feira, 2 de agosto de 2011

Confissão

Sou um a(caso) perdido.

sábado, 26 de março de 2011

Uma história de Des(amor)

Eu não a conhecia...

Para falar a verdade, até muito pouco tempo, nunca havia visto falar nada sobre ela.

Linda essa tal de Cibele Dorsa, pensei eu, quando a vi pela primeira vez - em janeiro deste ano - logo após o seu noivo - o tal apresentador Gilberto Scarpa, de quem eu também nunca havia visto falar -, se atirar pela janela.

As palavras que ela postou no Twitter, logo após o acidente, crime, fato consumado ou seja lá o que for, realmente, me comoveram: "Meu noivo se suicidou essa noite, com ele morto eu me sinto morta. Prefiro ir com ele, minha força não faz mais sentido. Quero encontrá-lo".

Dediquei alguns minutos para entender a tal história, que ficou martelando na minha cabeça não mais do que alguns minutos também. Inacreditável como a velocidade e intensidade com que as informações nos bombardeiam trazem e levam histórias, as transformando, em questões de segundos, em quase nada.

Enfim... Acabei me entretendo com outra coisa e, antes mesmo que pudesse fazer uma reflexão sobre o motivo pelo qual um rapaz jovem, bem sucedido e incrivelmente lindo poderia ter se tornado um viciado em cocaína, incapaz de deixar as drogas, outro fato se desenrola: três meses depois, Cibele Dorsa - a moça jovem, bem sucedida e incrivelmente linda - se joga da mesma janela.

Mais uma vez, me comovi! E, esse meu estado de incômodo seria um quase nada se não fosse pela particularidade deste suicidio. Cibele Dorsa anunciou no twitter a sua morte - o que seria normal, já que suicidas deixam vestígios latentes sobre o atentado que estão na iminência de cometer - mas, neste caso, a vítima também deixou uma carta - com um tom extremamente resignado e ressentido - não para um familiar - mas para a maior revista de celebridades do país - a Caras.

Como se fosse uma espécie de exclusiva, o veículo divulgou o material que, amplamente, vem sendo reproduzido pelos mais diferentes meios de comunicação...

Fiquei literalmente transtornada com este fato. Senti medo, náusea, frio na barriga e um incômodo tão grande que me fez parar tudo e ficar aqui, por mais de uma hora, completamente atônita e estática, a me perguntar: até quando iremos aguentar isso tudo?

Ninguém vai fazer nada?

Eu não vou fazer nada?


domingo, 13 de junho de 2010

Para que lado eu vou?

Escolher entre o sim e o não. Entre o certo e o errado. Entre o conveniente e o desafiador. Escolher entre fazer a diferença ou permanecer no tão confortável lugar comum. Quais são as suas escolhas?

Você já parou para pensar que foram justamente essas escolhas que fizeram com que você estivesse aqui e agora. Que elas são fruto dos seus sonhos, dos desejos mais intensos e de tudo aquilo que você – em algum momento – almejou?

Nossas escolhas delimitam a nossa vida. E, refletindo sobre cada uma delas, devemos ser capazes de nos sentir grandes. Se isso não acontecer, é preciso re(avaliar). Afinal de contas, escolher não é um processo fácil – exige maturidade, discernimento, equilíbrio e, principalmente, atenção.

São poucos os que escolhem idealizar uma vida melhor, mais plena e feliz. São poucos os que compartilham o sonho de servir ao outro. São poucos os dispostos a se doar - dia após dia – sem sentirem-se cansados, impotentes ou desestimulados. São poucos os que possuem a dádiva de conviver com a diferença - seja ela de raça, cultura, condição social, crença ou, simplesmente, opinião.

E, são menos ainda, aqueles que estão dispostos a se portarem como aprendizes - sem medo de errar, de cruzar a fronteira do conhecimento, de se perguntar o porquê das coisas. De trazer novas perspectivas para velhos conceitos e, neste processo, encontrar atalhos, interligações e produzirem curto-circuitos pouco (ou nunca) imaginados. O universo das escolhas é grandiosos e você não deve sentir medo de navegar por ele.

As pessoas que vivem plenamente não costumam ter o menor pudor em assumir que as fases mais produtivas e inovadoras das suas vidas foram, exatamente, as que os forçaram a assumir o quanto eram ignorantes e o quanto ainda precisavam aprimorar o que escolhiam para si. A ignorância, por sinal, deveria ser vista como oportunidade. Oportunidade de se fazer o que nunca se fez, de aprender o que nunca havia imaginado que poderia existir, de mudar aquilo que, até então, parecia imutável. De oportunizar as escolhas. A ignorância pode ser o primeiro passo para a tão esperada transformação.

Mas, não se iluda. Esta transformação é um processo - árduo, lento e desafiador. Você não irá encontrar fórmulas mágicas. Não há receitas. Por isso, não busque respostas, vá atrás de perguntas. Corra em direção aos problemas e não das soluções. Sendo assim, indague. Indague seus familiares, seus colegas de trabalho, seus professores, seus amigos. Indague os teóricos mais consolidados. E, acima de tudo, indague a você mesmo.

Não se assuste se isso te deixar tão perdido, mas tão perdido, que, de uma hora para outra, você poderá começar a se sentir de uma forma que os humanistas chamam de terceiro Nietzsche. Em meio a turbilhão de dúvidas e certezas; erros e acertos; ganhos e perdas, você só terá uma conclusão: eu sinto algumas coisas. Mas, bem ou mal, a maior parte das nossas escolhas estão relacionadas ao sentir.

Sendo assim, permita-se sentir e passe a almejar dias sinestésicos, inexatos e surpreendentes. Ganhe fôlego com as angústias e as transformem em momentos de aprendizado raros. Tenha coragem para renegar tudo aquilo com que já se acostumou. Ouse e refaça ininterruptamente – só assim, as suas ações irão marcar a inexatidão do tempo.

Para finalizar, perca o fôlego nos instantes inconfessos dos seus dias.

Faça boas escolhas.

Saúde!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Em 2010...

Desejo que você viva 2010 com a urgência de quem tem sede.

Que almeje dias inexatos e surpreendentes.

Que ganhe fôlego com as angústias e as transformem em momentos raros.

Que tenha coragem para renegar tudo aquilo com que já se acostumou.

Que ouse e re(faça) ininterruptamente, para que suas ações marquem a inexatidão do tempo.

Que sinta tudo de maneira sinestésica.

Que perca o fôlego, nos instantes inconfessos dos seus dias.

Desejo, mais uma vez e quantas for necessário, que você viva 2010 com a urgência de quem tem sede - muita sede.


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Offline

Fora da estação, o rádio chiava há quase duas horas, quando Valentina começou a despertar. Com a sensação de que o corpo havia se recuperado dos excessos do fim de semana – regado a encontros e desencontros com velhos e novos amigos – ela sentia a brisa fresca romper as ondulações da cortina, invadir o quarto e banhar todo o seu corpo que, sinestesicamente, respondia aos efeitos impressos pelo vento.


Ainda com os olhos fechados, solfejava a melodia da canção que se tornara tema da história de amor vivida na noite passada. Por alguns instantes, Valentina não se lembrada de que se tratava de uma segunda-feira.


No criado mudo – herdado pela avó materna – o rádio ainda reproduzia o mesmo ruído. Com um toque certeiro, Valentina o desligou, sem atentar-se para fato de que, naquela manhã, ela não havia sido acordada, repentinamente, pela voz do locutor que, sempre na mesma entonação, saudava o dia, a vida, a dona de casa, os porteiros, os taxistas, as empregadas domésticas e os motoristas de ônibus.


Enquanto escovava os dentes, ela esperava a água do chuveiro esquentar. O banho não foi demorado e, para a sua surpresa, a calça jeans surrada, o all star recém comprado e a camiseta retrô caíram muito bem com a casualidade planejada para aquele dia. Com a sensação de que estava se esquecendo de algo, entrou e saiu de casa três vezes antes de descer as escadas apressada, comendo uma maçã e selecionando a trilha sonora para acompanhá-la até o trabalho.


A estação do metrô, distante umas três quadras, parecia estar mais longe. Ela ainda não sabia se o motivo era os tênis novos ou as estripulias do fim de semana. Na banca de jornal, conferiu se a matéria, produzida com mais dois colegas, denunciando a compra de votos por líderes de igrejas evangélicas, havia saído da gaveta e repercutido nacionalmente.


Desapontada, não precisou retirar os R$ 0,50 do bolso e comprar o tablóide. Com letras garrafais e, para a sua surpresa e a dos leitores, coloridas, a manchete daquele dia era a requentada e fria matéria sobre o aquecimento no comércio, em virtude do Dia dos Namorados.


Um empurrão retirou Valentina do estado de inércia no qual se encontrava e fez com que ela observasse o vai e vem desenfreado das pessoas que, apressadas, subiam e desciam as escadas da plataforma.


Algumas gesticulavam, como se estivessem indignadas com alguma coisa. Outras corriam em sentidos opostos. Existiam, ainda, aquelas que permaneciam paradas, com o olhar voltado para o horizonte, esperando o trem chegar.


Ainda demorou alguns minutos para Valentina perceber que – naquele dia– a estação não era a mesma. Em alto e bom som, o fone no ouvido reproduzia, ininterruptamente, as músicas do seu artista preferido. Contando nos dedos, ela supôs que já passara mais de 15 minutos e nenhum sinal metrô chegar.


Receosa em abrir a bolsa, em meio a tantas pessoas, procurou um rosto familiar para perguntar as horas. Na primeira tentativa, um rapaz impaciente a informou que o seu celular, assim como o metrô, não estava funcionando. Na segunda tentativa, uma jovem de salto alto e bastante desnorteada desculpou-se por não poder informar, mas não possuía relógio. Na terceira tentativa, o senhor passou tão rápido, que a pergunta ficou no ar, sem resposta alguma.Cansada dos insucessos, afastou-se do aglomerado e, em meio a papéis, canetas, balas de goma e algumas moedas encontrou, no fundo da bolsa, o aparelho de celular. Surpreendeu-se com o que viu. Desligado. Valentina tentou – inutilmente – apertar todos os botões, antes de pensar em Murph e em suas Leis.


Desapontada, retirou os fones e os ouvidos atentaram-se ao zum zum zum.


- Não consegui sintonizar o meu rádio em nenhuma emissora. Contava uma senhora aflita, a um grupo de pessoas.


- Lá em casa, então, está muito pior. Diz um senhor. Além do rádio, a TV também não funciona. Só chuviscos na tela, vocês tinham que ver!


Uma linda jovem grávida garante que tentou ligar para o marido, que está viajando, mas foi em inútil. – Os telefones estão mudos. Nem na rua eu consegui linha. A Internet também parou.


Não seria possível, pensava Valentina. O que estaria acontecendo.


A demora do metrô e a falta de informações aumentavam a aflição das pessoas, que pensavam nos seus chefes, familiares, nos compromissos agendados anteriormente e na impossibilidade de desmarcá-los.


Valentina ainda tentou ligar o aparelho celular, mas desistiu ao ser interpelada por uma criança que, sem nenhuma cerimônia, gritava para quem quisesse ouvir:


- Moça! Oh Moça! Não vai funcionar não. Você não está vendo: - O mundo parou!


- O Mundo parou!


Seria isso?


Valentina não conseguia se mover. A exclamação do menino, acompanhada dos olhos esbugalhados e curiosos, ecoava em sua mente.


- O mundo parou!


- O mundo parou.


Os passos largos e rápidos a levaram para fora da estação. Repentinamente, sentiu que lhe faltava ar. Apoiando as mãos nos joelhos, cabisbaixa, ela tentava respirar.


As sirenes das viaturas da polícia fizeram com que Valentina se recompusesse. Agitados, apreensivos e com as armas apontadas para fora dos camburões, os policiais procuravam muito mais do que um ladrão de galinhas ou um golpista no centro da cidade. Com a cabeça para fora das janelas, eles se comunicavam uns com os outros.


- Mas por que não utilizavam o rádio, questionava Valentina!


O trânsito já estava bem confuso, quando conseguiu acenar para um táxi.


- O senhor pode me fazer à gentileza de ligar o rádio.


- Dona, eu também ia achar bom demais se ele funcionasse. Desde as 5 horas tô tentando e nada...


- Posso? – pediu Valentina, receosa em não conseguir.


- Claro! A Dona fique à vontade. Mas vou logo avisando: duvido que essa joça funcione.E não é que o motorista estava certo. Nem sinal das emissoras.- Não sei a Dona sabe, mas está acontecendo algo nessa cidade hoje. Passei agorinha ali pelas ruas do centro, no miolinho mesmo. As televisões das lojas, que vendem esses aparelhos pra casa da gente, estão desligadas. Nenhuma vivalma ouve rádio, fala no telefone, assiste à TV. Até esse aqui, oh, que a gente usa pra se comunicar com outros taxistas, não funciona...


- A Dona acredita numa coisa dessas?


Valentina já não sabia mais há quanto tempo estava dentro daquele táxi. A impressão era que se passara quase uma hora. Ainda faltavam alguns quarteirões para chegar ao trabalho, quando ela desceu. Tinha pressa. Queria chegar logo à redação e acabar, de uma vez por todas, com aquele tormento.


Quando avistou o prédio do jornal, do outro lado da rua, um arrepio percorreu o seu corpo. Sabe-se lá o porquê, mas sentiu-se aliviada, segura, protegida.


A angústia e a tensão – em um piscar de olhos – foram embora.Valentina apertou os passos e, quando deu por si, já estava dando bom dia ao Sr. Manoel que, – para a sua surpresa, mas não espanto – não estava com o radinho de pilha colado à orelha esquerda (a única que ainda funcionava, como ele costumava dizer), escutando as últimas notícias do seu time, que, depois de quatro anos na terceira divisão, conquistou uma vaga na segunda.


- Bom dia, Valentina! Já sabe que não tem nada funcionando aqui hoje?


- Imaginava, Sr. Manoel...


Na redação, o clima era tenso. Repórteres, fotógrafos, designers, editores, estagiários e, até a copeira e os motoristas, em uníssono, levantavam hipóteses, formulavam teses, falavam em teoria da conspiração, em ataques terroristas, em pane em satélites, em invasão extraterrestre e, até mesmo, na volta de Cristo ou quem sabe, um anticristo.


A cúpula do jornal, reunida há muito tempo às portas fechadas, convocou todos os profissionais e, juntos, traçaram estratégias de cobertura e investigação. Os jornalistas mais experientes iriam percorrer – de carro – do interior até os limites com outros estados.


Valentina ficou responsável por levantar informações na região metropolitana. Cautelosa, abandonou o gravador e tomou posse do bloquinho de notas, acompanhada por um motorista e um jovem aspirante a fotógrafo – que se embrenhou na redação pela primeira vez, há algumas horas, em busca de estágio.


Durante o percurso, a repórter observava – em silêncio – o vai e vem das pessoas, os grupinhos reunidos, os murmurinhos nas esquinas.


Da janela do carro, viu quando um jovem – aparentemente bem apessoado – jogou um senhor de meia idade no chão, pegou sua pasta e fugiu, tranquilamente, na garupa de uma moto.


Foi o estagiário quem percebeu que as agências bancárias estavam fechadas. Já o motorista, apontou, ao longe, um caminhão do exército repleto de homens camuflados, armados e prontos para atacar ou, quem sabe, prontos para defender.


Próximo a uma das principais rodovias do estado, eles decidiram parar. Já estavam em outro município e a situação era a mesma. Os meios de comunicação não funcionavam. Das margens da rodovia, avistavam a pista do aeroporto, repleta de aviões que, sem comunicação, não podiam decolar.Com um caminhoneiro, Valentina obteve a primeira informação relevante. Aquilo tudo havia começado à meia noite.


- Estava viajando tranquilo, ouvindo o noticiário e doido pra ele acabar. À meia noite começa o programa do Valadão – A Hora do Coração – e a Deinha, minha namorada, disse que iria entrar ao vivo pra me mandar um beijão e declarar, pro mundo todo, o seu amor por mim.Porque a senhora sabe que o programa agora vai pro mundo todo, né! É só ligar o rádio na Internet e ouvi. O Valadão agradece o mundo todo pela audiência. Essa tal de Internet é coisa de Deus mesmo. Onde já se viu! Estar em todo lugar. Eu ainda vou aprender a mexer nesse negócio e vou ter uma Internet também.O programa começa meia noite, em ponto. Nunca atrasa um só minuto. Foi praga do João, do Marcelo da Roça e do Eduardo. Isso é inveja daqueles cabras.


Valentina já não se atentava aos pormenores da história. Meia noite - o único dado importante que tinha até agora e já estava escurecendo.


Àquela altura, o motorista e o estagiário percorriam bares em busca de água mineral. A resposta era sempre a mesma: – Acabou e não tem como ligar para pedir mais.


De volta à redação, cada repórter relatava o que encontrou pelas ruas. Em menos de 24 horas, a cidade estava um caos.


Nas praças do grande centro, o comércio ilegal e a venda de drogas ilícitas aconteciam tranquilamente, já que os militares estavam preocupados em encontrar o culpado ou as causas do fenômeno.


Nos bairros da periferia, vários supermercados foram saqueados. A população temia a não reposição de mantimentos.


Nas igrejas e templos religiosos, fieis oravam e pediam a misericórdia de Deus.Em vão, mães, pais, amigos e até animais de estimação aguardavam, ansiosos, nos aeroportos, por desembarques que não aconteceram.


Com medo de voltar para casa, Valentina preferiu passar a noite no jornal. A expectativa era que, exatamente a meia noite, tudo se normalizasse.


Isso não aconteceu.


O fenômeno já perdura uma semana. Muitas pessoas não saem mais às ruas. Escolas, órgãos administrativos, setores importantes para a sociedade decidiram fechar às portas e os olhos.O tablóide que Valentina trabalhava, também deixou de funcionar.O número de doentes e famintos crescia assustadoramente, assim como os índices de homicídios.Com os bancos fechados, o dinheiro deixou de circular.Milícias tomaram conta de vários bairros. Traficantes tornaram-se donos, não somente de morros.Ninguém sabia o que as autoridades estavam fazendo. O Governo então, nem notícia dele.Cada um se defendia a sua maneira.Valentina já não tinha mais força para sair às ruas em busca de explicações. O pouco que havia comido, nos últimos dias, foi doado por amigos e vizinhos.Da janela do seu quarto, observava até que ponto podia chegar a ira, a ganância, a falta de compaixão e amor ao próximo.Da janela do seu quarto veio, também, a última lembrança daqueles dias.


Quando acordou, na Unidade de Tratamento Intensivo do maior hospital da cidade, o otoscópio do médico procurava vida e reação por detrás das grandes pupilas acinzentadas.Ela ouvia, ao longe, uma voz suave perguntando: Está tudo bem? Você consegue me ouvir? Pode mexer com os dedos da mão direita.


Valentina não reagia.


Lembrava-se, apenas, que havia olhado para o céu, no momento em que uma nuvem prateada, com um brilho metalizado, fez com que ela perdesse a visão e a rajada de vento supersônico a arremessou contra a parede.


- Valentina!


- Valentina, você está ouvindo?


Ao levantar o polegar direito, os médicos comemoraram.


- Ela sobreviveu!A TV, a Internet, as redes sociais, os jornais impressos, as emissoras de rádio – todos veicularam a mesma notícia:


Após três anos, começa a reagir a única sobrevivente de fenômeno Offline!

domingo, 26 de julho de 2009

Você já experimentou?

Você já experimentou acordar em pleno domingo nublado e frio, depois de uma noite chuvosa e uma semana cheia de muito trabalho, com prova final na faculdade, acabando um curso de crítica, com TPM, sem dinheiro, cansada, literalmente, cansada, às 6 horas da manhã?

Você já experimentou pular da cama e ir direto para o chuveiro – morno em um dia frio – e, de olhos fechados, após dez minutos, descobrir que trocou o condicionador pelo sabonete líquido e morrer de tanto rir?

Você já experimentou ignorar os presságios da sua mãe, violar as evidências – transgredir?

Você já experimentou dar um bom dia alaranjado em uma manhã acinzentada – abraçar de verdade, beijar com vontade e seguir?

Você já experimentou encontrar pessoas que, momentaneamente, possuem os mesmos interesses – desbravar, caminhar, descobrir, conversar, sorrir, compartilhar, temer, descansar, se encantar – viver?

Você já experimentou ver alguém especial depois de um tempão e sentir o coração bater mais forte e mais feliz depois de simples tocar?

Você já experimentou conversar com alguém que você nunca viu e descobrir que é possível conseguir um milagre fazendo dez cópias de uma oração – desde que ela fique guardada no seu coração – que 'cipó de São João' misturado com álcool tira manchas da pele; que a clausura por livre e espontânea vontade ainda existe; que Santa Beatriz protege toda uma região; que ainda existe 'namorinho' de portão e despedidas na janela da lotação?

Você já experimentou tirar uma fotografia em grupo com uma senhora que você nunca viu, mas que tem cara da sua vó, e imortalizar aquele momento dentro do coração?

Você já experimentou sair por aí, sem destino certo, e se encontrar?

Você já experimentou andar de mãos dadas, seguir junto, compartilhar, gargalhar e descobrir que 'para estar no paraíso basta amar'?

Você já experimentou tomar água – com gás, sem gás, da bica, quente ou fria – suco de uva/maçã, mel; comer castanha-do-pará, biscoito de cereja com chocolate, amendoim torrado, pirulito de uva/maçã-verde/morango; granola, mexerica, rosquinha, leite condensado, maçã, macarrão pré-cozido, chocolate e um sanduíche preparado em parceria com o seu amor?

Você já experimentou se indignar com um monte de lixo hospitalar jogado às margens de um rio, com pneus queimados nas imediações de uma grande mata verde, com a Associação dos Caçadores de Minas Gerais, com o preço da passagem?

Você já experimentou deixar a emoção tomar conta de tudo, te controlar, até você sentir a lágrima brotar ao ver um cachorrinho correndo desesperado - por uma rodovia movimentada em que passam pessoas desgovernadas dirigindo suas 'máquinas' – atrás de donos insensíveis que, confortavelmente, o observam à distância?

Você já experimentou compartilhar experiências e descobrir que ovo de pato, com biotônico fontoura e leite condensado é receita de vó e elimina fraqueza, anemia e mal estar; que o urubu nasce com as penas brancas e a pele pretinha; que o Rio das Velhas nasce em Ouro Preto; que um dos maiores grupos de rock progressivo do mundo, o Premiata Forneria Maconi – PFM vai estar em seu país pela primeira vez e fará um show na sua cidade?

Você já experimentou andar até o pé doer – por um caminho desconhecido – sem saber quando vai chegar e se vai chegar e, de repente, se deparar com alguém disposto a te ajudar, que te acolhe dentro de um caminhãozinho que carrega bois e te dá o privilégio de sentir o vento no rosto, olhar até aonde a vista alcançar – transformando aquele momento em encantamento para a vida toda?

Você já experimentou voltar para casa sorrindo, conversando, interagindo relembrando momentos vividos?

Você já experimentou?

Porque eu acabei de vivenciar.

Belo Horizonte/Santa Luzia/Taquaraçu de Minas.

domingo, 22 de março de 2009

Lembranças

Tem tanta coisa que a gente tem dentro da gente.
Têm coisas que insistem em não nos deixar...
Outras - ora aqui, ora acolá - nos pegam totalmente desprevenidos - pelo simples prazer de nos fazer lembrar.
Hoje eu acordei assim: lembrando de tantas coisas que existem dentro de mim.
Têm coisas que são assim mesmo – vieram para ficar. São lembradas em todo santo dia (em todo dia santo).
As lembranças do meu pai são assim – permanentes, latentes... Sempre me lembro dos olhos, do sorriso, dos seus braços e abraços. Dos bilhetes deixado nas últimas folhas dos cadernos... Da maçã colocada dentro da mochila que dormia sobre a cadeira... Da delicadeza... Das noites mal dormidas ao meu lado - e das bem dormidas também. Das histórias contadas na cabeceira da cama, do copo d’água de todas as noites, do afago nos cabelos, das palavras certas nas horas mais incertas.
E como me lembro das mãos...
Desde o começo, aquelas mãos que andavam entrelaçadas nas minhas.
Acho que é esta a minha primeira lembrança... A primeira!

segunda-feira, 16 de março de 2009

Poema

De repente, não mais que de repente, chega ao mundo mais um pedacinho de gente.
João, para alguns, significa agraciado por Deus.
João, para outros, significa pessoa forte.
João pode significar, também, impetuoso...
Para mim, o João é um poema.
Poema com versos sonoros - traduzidos em pequenos gemidos, quando se sente incomodado.
Poema com rimas simétricas - traduzidas por olhinhos que insistem em ficar fechados.
Poema concreto - direto, intenso, surpreendente e leve (não mais que isso).
João = 16 de março = 11h20 = 46cm = 2,900 Kg

quinta-feira, 5 de março de 2009

Máxima!

penso, logo insisto!

sábado, 28 de fevereiro de 2009